top of page

Os desafios para um estudante e atleta vencer na Califórnia

  • Foto do escritor: Mundo Bom
    Mundo Bom
  • 27 de nov. de 2021
  • 10 min de leitura

Atualizado: 19 de dez. de 2021

"Como um brasileiro de Diadema superou dificuldades para se tornar um caso de sucesso nos Estados Unidos"


Morar no exterior é um sonho comum do início da vida adulta. O desejo de conhecer outras realidades, que é natural aos jovens de qualquer nacionalidade, no Brasil une-se a uma necessidade mais urgente: a de buscar um lugar em que o talento e os potenciais possam ser trabalhados com maior estabilidade social e econômica, e onde se possa buscar um sonho e mesmo mudar de objetivos sem que isso se reverta em prejuízo.


João Paulo Leite passou por esse processo: nutrir um sonho, ser movido por ele e depois vê-lo mudar. Sendo um atleta já não tão jovem de Diadema, na grande São Paulo, com potencial para competir profissionalmente, sabia que na sua idade (tinha 22 anos) sua chance de “acontecer” no futebol poderia estar em uma universidade fora do país.

Fora do Brasil teria também a possibilidade de concretizar outros sonhos, como morar no exterior, aprender um novo idioma e se especializar em sua área de formação, a Administração de Empresas. Tais objetivos o levaram para longe

Fonte: Embaixada dos EUA

da família e dos amigos. Seu plano apresentava desafios próprios, mas o seu objetivo não era tão diferente ao de milhares de brasileiros que partem para buscar realização no esporte, nas artes ou apenas o aperfeiçoamento acadêmico: evoluir e ter sucesso.



Seu objetivo não era diferente ao de milhares de brasileiros: evoluir e ter sucesso!"


Em busca de concretizar tais sonhos, João ingressou em um programa da College of The Desert, uma bem conceituada Universidade Comunitária em Palm Desert, uma cidade da Califórnia com pouco mais de 50 mil habitantes. Nesse programa, o estudante atleta tem a possibilidade de ingressar com bolsas parciais ou integrais. O College of the Desert recebe alunos de todo o mundo e oferece a possibilidade de estudo em diversas áreas.


Robert Holmes, atualmente vice-diretor do College, foi orientador acadêmico de João nos Estados Unidos, ele explica:

“ Estudar nos Estados Unidos não é diferente do que em qualquer outro lugar do mundo. Em minha carreira empresarial, vivi e trabalhei em todo o mundo. Estudei muitas culturas e ganhei muita experiência. A capacidade de ter sucesso depende da pessoa, não do lugar. Manter o foco constante, não ter medo de falhar, dar boas-vindas a todas as oportunidades, especialmente as difíceis, e usar cada uma como base para sua próxima aventura.”


A capacidade de ter sucesso depende da pessoa, não do lugar" - Professor Robert Holmes, vice-diretor COD

A afirmação de Mr. Holmes traz essa outra dimensão de aprendizado que sugere que a aproximação com outras culturas soma tanto quanto a experiência acadêmica em si.




Um fim ou um começo?


Mesmo com toda a pesquisa e orientação, a expectativa cria algumas ilusões sobre a realidade de um lugar que ainda não conhecemos. Porém, o imprevisível é um elemento constante em qualquer aventura e precisa ser considerado como parte do “pacote”. Para João, o inesperado significou algo determinante: o fim de um antigo sonho e uma mudança de direção para uma nova possibilidade de futuro, que lhe custaria muito esforço e uma importante renúncia:


“ Nos primeiros meses em Palm Desert eu tive as primeiras dificuldades - explica João - Descobri que a estrutura para a prática do futebol, que era meu principal objetivo, não era tão completa quanto eu imaginava. Havia um número insuficiente de atletas mesmo para os treinos e um nível competitivo inferior ao que eu estava acostumado. Ficou claro que, se por uma lado eu tinha ainda a oportunidade de aperfeiçoar meu inglês e meus conhecimentos acadêmicos, por outro, eu não me desenvolveria como atleta no mesmo grau. Eu tinha consciência que aquela era a minha última tentativa no esporte. Assimilar que esse lugar para onde vim, deixando amigos e família, não era onde eu iria realizar um sonho mas desistir dele, foi uma grande frustração e, provavelmente, a coisa mais difícil que já tive que admitir na vida! Enfrentar isso longe daqueles que eu mais amo foi muito difícil. Naquele momento eu queria apenas desistir de tudo e voltar para casa.”





Uma importante decisão


Ao aceitar que o futebol não era mais uma possibilidade e sentindo, mais do que nunca, saudades de casa, João recorreu à sua base: a família. O apoio que ele recebeu, no entanto, veio de forma diferente do esperado:


“ Como família, nós estamos aqui para tudo o que ele precisar, sempre - explica, Sr. Antônio Leite Filho, pai de João - inclusive dando apoio caso ele decidisse que era mesmo hora de voltar. Mas quando as dificuldades surgiram, e não só por conta do futebol mas também no convívio com os colegas de apartamento, na sobrevivência com o mínimo de dinheiro e na incerteza quanto ao futuro, meu filho perguntou se eu achava que valia a pena passar por todo o sacrifício, tanto nosso quanto dele, já que dávamos o apoio financeiro para que ele permanecesse lá. Eu respondi a ele que era justamente sobre esse sacrifício que ele deveria pensar; se depois de tudo que ele estava passando e de todas as pessoas que ele tinha se afastado, valeria a pena voltar sem ter ainda construído e aprendido algo que fosse durar.”


Mesmo apoiando qualquer decisão do filho o seu pai, Antônio, valorizava o fato dele poder se especializar, aprender outra língua e absorver os aspectos positivos da cultura norte-americana e crescer, profissionalmente e como ser humano:

“ Tanto faz se nos Estados Unidos ou Europa, a pessoa tem que ter um objetivo, saber bem o que quer e entender que se está passando por dificuldades e distante da família é por uma razão, para construir algo importante e isso deve ser motivo o suficiente para seguir. Nós aqui ajudaríamos no financiamento do sonho dele enquanto fosse preciso.”


Não se nega a um filho o direito de correr atrás de seus sonhos, ou no futuro essa culpa por aquilo que ele não realizou pode vir pra gente." - Silvia Stefano Leite, mãe de João.


A mãe de João, a psicopedagoga Silvia Stefano Leite, secando as lágrimas pela segunda vez durante a entrevista, lembrou que, no início, a despeito das preocupações de todos sobre os riscos, reais e imaginários, a que João estaria exposto morando no exterior, seria uma boa decisão. A maior parte dos recursos da viagem vieram da aposentadoria dela. Silvia decidiu seguir seu coração e basear sua decisão na confiança que tem no filho:


“ Criamos um rapaz responsável e inteligente e sabemos da educação que demos a ele. E por mais que isso possa ser difícil, não se nega a um filho o direito de correr atrás dos seus sonhos, ou no futuro essa culpa por aquilo que ele não realizou pode vir pra gente!”

Segundo os pais, uma das recompensas pelo apoio que deram ao filho é observá-lo hoje em dia em seu crescimento como ser humano;

“Quando foi, era um menino, mas nas vezes em que veio nos visitar nos anos seguintes já era um homem! E um tipo de homem que nos deu orgulho.” Afirma o pai.


João, Silvia, Antônio e Bruno.

O irmão caçula, Bruno, mudou-se recentemente para a cidade de Camboriú (SC), no sul do Brasil. Silvia já mais acostumada com a saudade diz que dará o mesmo apoio ao caçula, mas demonstra ao falar de Bruno o mesmo amor e preocupação, embora a distância seja menor:

“É seguro lá? questiona, sabendo que também sou do sul do país. Para tranquilizá-la, respondo que “acho que sim”, mesmo conhecendo pouco Camboriú.





Mesmo tendo ajuda, não foi sem muita dificuldade que João enfrentou seu primeiro ano nos Estados Unidos. Ele preferia não compartilhar os problemas com os pais. Sentia que não era justo pedir-lhes mais, pois eles já bancavam a faculdade e seus custos básicos.

João recorda que, para economizar, almoçava durante a tarde para não precisar do jantar. Também descobriu que podia recolher latas e garrafas recicláveis dos lugares que frequentava para ter um dinheiro complementar. Ele entendia o investimento e a expectativa depositados em seu futuro, mesmo assim, naquele ano, teve muitos momentos de dúvida e a vontade da desistência era quase diária:


“Minha vida aqui era bem diferente do que as pessoas imaginavam no Brasil. Minha rotina era basicamente faculdade, academia e casa. A essa altura nem o futebol tinha mais espaço. Nessa época eu posso dizer que fiquei mais por causa dos meus pais e dos aconselhamentos deles do que por mim.”


fonte: www.nube.com.br

No primeiro período de férias da faculdade no Brasil quando, a despeito das dificuldades que enfrentou, já estava decidido a voltar para o exterior, João estruturou um novo plano:

“Na verdade, eu não pretendia mais ficar no Brasil e decidi aplicar para um ano de permissão de trabalho após me graduar no College. Então eu me mudei para San Diego onde teria possibilidade de mais propostas. Estando aqui - San Diego - não demorou muito até que eu fosse chamado para uma entrevista.”

A partir dessa decisão e dessa oportunidade profissional surgida na nova cidade, a sua história nos Estados Unidos entrou em uma nova e empolgante etapa.










Um novo sonho


Atualmente, o gerente geral João Leite, reconhece que a maior dificuldade do trabalho é a gestão de pessoas. Foi, porém, na atenção a elas que ele teve seu primeiro destaque, compreendendo que era preciso ouvir a equipe e fazer de toda decisão uma construção conjunta. Na sua trajetória no cargo, ele coleciona muitas importantes conquistas e tem orgulho de ter feito a diferença na saúde financeira da empresa garantindo que, mesmo durante a pandemia, não houvesse cortes de pessoal. Porém, antes de ter condições de ajudar os outros, teve que encarar seus próprios desafios:


“ O primeiro desafio foi a língua, mas isso eu fui desenvolvendo com o tempo. No início eu trabalhava no arquivamento de dados (data entry). Quando passei a fazer a folha de pagamento (payroll) tive que compreender uma série de leis trabalhistas totalmente diferentes das nossas. Em ambos os processos, a experiência no College foi de grande ajuda.”



Ele foi um dos alunos mais dedicados que tive na minha carreira de Professor..." - Professor Robert Holmes


O professor Robert Holmes lembra do quanto João se destacou no Programa do College of the Desert:

“ Lembro-me muito bem do João Leite. Ele foi um dos alunos mais dedicados que tive em minha carreira de professor. João é muito maduro, um bom líder e um modelo maravilhoso para os alunos mais jovens. Ele foi um participante ativo em cada aula e também participou de uma prática de pequenos negócios em que os alunos puderam criar um novo negócio do conceito à realidade e gerenciar este negócio por um semestre. João participou duas vezes, pelo que me lembro. A cada vez, sua liderança gerou receitas superiores a US $75.000 em apenas 15 semanas. Ele é um indivíduo muito talentoso. “


João acumulou um tal conhecimento do processo que, mesmo ao esgotar o seu primeiro ano de trabalho, antes da gerência (período máximo permitido pelo OPT - Optional Practical Training) ele continuava a responder telefonemas de funcionários da empresa e ajudava a sanar todo tipo de dúvidas:

“Era um pouco difícil, pois ao encerrar meu ano no programa, eu fiquei no país com o visto de estudante e todas as minhas atividades tinham que corresponder a esse status, de forma que mesmo querendo, não podia dar ajuda técnica sobre qualquer problema, pois isso poderia ser considerado trabalho. Me limitava a dar conselhos.”


De qualquer maneira, no ano de trabalho no OPT, João conseguiu criar uma imagem muito positiva, focando em ajustar a contabilidade e dar a melhor resposta aos funcionários no RH. Tudo tendo por base muito estudo e comprometimento. Dessa maneira, ficou claro para o proprietário e para os funcionários da empresa que ele era uma peça fundamental.


Enquanto estudante, permaneceu para fazer o TOEFL (Exame que avalia o potencial de falar e entender o inglês em nível acadêmico) foi quando teve uma nova oportunidade de trabalho ao cursar o MBA (Mestrado em Administração de Empresas). A partir disso, pôde aplicar para um serviço de meio período, o que já atenderia às necessidades da empresa que nunca deixou de querê-lo em seu quadro.

O Programa o para trabalho em período parcial, CPT, permitiu o retorno de João à Renty LCC e, com a saída do gerente anterior ele naturalmente assumiu esse posto. João lembra da disputa pelo cargo, da qual ele nem fazia parte, e como acabou ficando com ele:


“ Com a saída do gerente anterior, a disputa ficou entre três outros candidatos. O processo que eles precisavam administrar eu já conhecia bem, de forma que eu colaborava como podia. No final, o meu empregador optou por me dar o cargo e, felizmente, a equipe aprovou a decisão.”





A partir daí, João se viu em condições de implementar uma série de mudanças que dinamizaram processos, aumentaram lucros e elevaram a pontuação de avaliação de clientes de 3.4 para 4.3/5. Além da satisfação do cliente, João se aprofundou no estudo de Relações Públicas, tanto para uma melhor liderança quanto para unir a equipe, coisa que ele mesmo aponta como uma de suas mais importantes conquistas:


“ Minhas principais ideias estavam relacionadas, em primeiro, a ter um bom atendimento ao cliente e em segundo, criar uma ambiente saudável para a equipe de 25 funcionários. As ações que implementamos trouxeram resultados imediatos, do balcão de atendimento à oficina mecânica. A atenção ao público interno ficou visível no que alcançamos no trabalho cooperativo onde todos lucram pelo bom desempenho individual, e com o público externo, a diminuição das queixas e o bom desempenho das locações mesmo durante a pandemia. Nesse período, a a Renty LCC prestou um trabalho social importante, pois focamos em criar vantagens para os clientes que precisavam dos carros para o trabalho, com milhas ilimitadas e desburocratização nos contratos, para que àqueles que mais sofreram financeiramente com a pandemia tivessem mais tranquilidade para trabalhar.”



“Sou responsável por RH, vendas, atendimento ao cliente, detalhamento de automóveis, finanças, registros, oficina, concessionária de suporte, armazenamento de automóveis, sinistros, contas a pagar e a receber, folha de pagamento. Eu supervisiono ou executo tarefas para todos os departamentos da Renty LCC. Fazendo parte de todas etapas, posso conectar tudo em um único ciclo e trazer melhorias para a empresa como um todo. Por exemplo: Eu entendo detalhes da mecânica, então posso me conectar com as vendas e entender como nós podemos melhorar nosso atendimento com todos os departamentos conectados.”



A maneira com que João fala das prioridades na condução de suas tarefas evidencia a confiança que ele tem em sua filosofia de trabalho, e o fato de quase nunca usar o “eu” mas sim o “nós” ao falar de melhorias implementadas, reflete muito do seu estilo inclusivo e democrático de liderança.





João Leite veio para os Estados Unidos com a intenção de jogar futebol. Agora gerencia uma empresa e faz a diferença para clientes e colaboradores. O senso de equipe, a determinação e a disciplina aprendidas no esporte não foram desperdiçadas. Ele somou a elas outras habilidades, outros conhecimentos e transformou a sua história em sucesso.


“ Ele construiu, e está construindo, uma linda história… ” diz Silvia, mãe de João, “... e eu acredito muito, muito na capacidade dele! Nunca duvidei dos resultados de hoje! Eu percebi que ele é determinado e quer chegar a um lugar… e ele vai chegar!”


Uma lição importante na trajetória de João é a de que sempre há sentido quando se insiste e persevera e que, mesmo numa mudança inesperada há a possibilidade de um novo futuro.


João continua a nutrir sonhos e segue trabalhando por eles, sabendo que o próprio trabalho provém todas as lições que precisa:



Meu Objetivo agora é o Green Card. Sei que o aprendizado e a experiência que tive aqui me ajudaram no meu desenvolvimento profissional e pessoal e que a maneira de retribuir é com o meu trabalho e minha dedicação como, aliás, eu já tenho feito!" - João Stefano Leite, gerente da Renty LCC.



Por: Elivelto Corrêa - vl2cultural@gmail.com

Comments


bottom of page