top of page

Felicidade

  • Elivelto Corrêa
  • 20 de mar. de 2018
  • 2 min de leitura

A felicidade deveria ter a mesma qualidade do mel. Assim toda a boca só de falar "felicidade" ficaria doce.

Eu sei o que é a felicidade. Nós estivemos juntos ainda ontem, enquanto eu ouvia minha música; e também anteontem, enquanto eu pedalava contra o vento. No dia anterior enquanto a luz matinal fazia brilhar as laranjas que eu cortava sobre a mesa. Eu estive com ela outra noite enquanto eu bebia com os amigos e, dentro do abraço deles, ela me abraçava. Eu tive tanta felicidade, sincera, fugaz e repetidamente.

Percebi que a felicidade é felicidade quando eu a sinto sem querer entendê-la. Quando eu a vivo mas não a percebo. Quando eu não quero capturar, catalogar e prender seca com alfinetes num mural. A felicidade é uma borboleta sem nome científico.

Pois toda vez que buscamos o sentido da felicidade, a felicidade foge; mágica e arisca como um unicórnio, um bicho que nem existe!

A gente aprendeu que a felicidade depende de fatores, diretrizes, definições. Aprendemos que ela depende de ações, reações, resultados.

Temos algumas preconcepções de como a felicidade deva ser. Então aprendemos a reconhecê-la dentro de alguns parâmetros. Mas nossos moldes são tão sólidos que não aceitam qualquer forma. Muita felicidade passou por nós mas não e ficou, pois não coube no nosso gabarito. Ou porque, embora fosse felicidade e soubéssemos bem, não era a que buscávamos e, sendo outra, não servia. Deixamos de gozar da felicidade que existiu para focar em uma outra, idealizada que sabe-se lá se irá se concretizar.

Assim, para nós, a felicidade nunca será um sabor na boca. Será mais como um espírito de luz vagando no bosque das indecisões, questionamentos, insatisfações. Surreal e fantasmagórica!

Existe sempre uma sombra, um arrepio e um certo nó na alma quando pensamos em felicidade. Há sempre algum pesar por algo que abrimos ou abriremos mão por ela. Algum sacrifício ou enfrentamento que julgamos necessário vivenciar para sermos merecedores da felicidade.

Não nos ocorre, pois somos acostumados com os conceitos de conquista e vitória, mérito e reconhecimento, superação, que talvez a felicidade seja uma coisa para todo mundo, inclusive para quem não merece. O mel adoça igualmente qualquer boca, mas qual é a boca que se permite o tempo e a contemplação do próprio paladar?

Existe alguma coisa aí na sua boca, na sua janela, no seu rádio, no seu olhar, na sua vida... Esteja atento para perceber se essa tal coisa, ignorada por ser presente, já não é a própria felicidade. Gratuita e plena.


 
 
 

Comments


bottom of page